
Perfume é uma adaptação da obra literária de mesmo nome, escrita por Patrick Süskind, em 1985. A história é sobre Jean-Baptiste Grenouille (interpretado por Ben Whishaw), um homem com um olfato extraordinário, que consegue sentir e discriminar todos os elementos presentes em todos os odores. Tá, a explicação não foi lá das melhores mas, a grosso modo, é isso que se precisa saber.
Certo dia, caminhando pela cidade, Grenouille sente um perfume maravilhoso. Ao procurar a fonte de tão arrebatadora fragrância, descobre que ela sai do corpo de uma vendedora de frutas – era o cheiro dela própria. Fascinado, ele segue a jovem para sentir seu cheiro mais de perto mas, obviamente, seu comportamento é mal interpretado por ela. Ao perceber a aproximação do escravo, a jovem tenta gritar, mas é calada por Grenouille que, não tendo controle sobre sua própria força, acaba asfixiando a mulher. Ao perceber que o cheiro da moça se esvai à medida que ela morre (ooooh!), o protagonista entra em desespero e, desde então, dedica sua vida a descobrir como armazenar o cheiro das coisas. A partir daqui, a placa de SPOILER está ligada com luzes verde-cana piscando. Não continue caso não queira saber do final do filme.
Dando um salto na história, Grenouille torna-se um aprendiz de perfumista e vai à Itália para estudar sobre técnicas de armazenar fragrâncias. De pessoas. Tendo aprendido a técnica, o perfumista seleciona e mata 16 mulheres, cujos perfumes naturais mais lhe agradavam, fabricando um único perfume com uma fragrância divina. Grenouille é preso e condenado à morte. Porém, no dia de sua execução, leva todos a acreditarem na sua inocência passando alumas gotas de sua obra prima sobre si mesmo. Logo depois, espalha a fragrância pelo lugar, com um lenço, deixando a população num misto de transe e frenesi: como que hipnotizados, todos começam a fazer sexo no meio da rua, numa das melhores cenas sodômicas vistas apenas em trechos bíblicos. Grenouille, porém, mesmo constatando o poder que sua arte possui, não se sente pleno, não se sente completo, não se sente amado. E, estranhamente lembra da mulher que matou sem conseguir reter sua essência, sentindo-se vazio por isso.
Bem, aqui começamos a viagem psicanalítica. A teoria do objeto, proposta por Jacques Lacan, introduz um objeto “a” na lógica do desejo humano. O objeto “a” não existe no real e ocupa, no simbólico, o lugar do “vazio”. O objeto “a” também pode ser entendido como “o objeto perdido” – aquele do qual só temos um estilhaço, uma vaga lembrança, que nos faz buscar em vão os outros pedaços para “completar o quebra-cabeças”. Em vão, porque o objeto “a” não existe, lembra? Tentando descomplicar um pouco, o objeto “a”, na psicanálise, é o responsável por aquela sensação de “falta alguma coisa”, por mais que alcancemos nossos objetivos.
Percebi isso no filme, ao ver a última cena que descrevi. Mesmo “satisfeito” com o resultado alcançado pela sua criação (ele não morreu, então podemos considerá-lo bem satisfeito), Grenouille não se sente pleno, completo, amado. Isso porque a fragrância não armazenada da mulher que morreu em seus braços perdeu-se para sempre. Esse perfume seria o objeto “a” de Grenouille, a razão da sua busca; o seu propósito de criar uma fragrância usando a essência de várias mulheres. O protagonista tenta, sem êxito e a todo custo, reviver esse cheiro perdido através dos estilhaços: as 16 essências das moças mortas. Tal postura assemelha-se ao que diz a teoria psicanalítica do objeto: o sujeito busca o gozo pleno – proporcionado pelo inexistente objeto “a” – nos objetos parciais, estilhaços do objeto “a”, sem que este se reduza à união desses vários objetos parciais.
Tá bom. Tá bom. Eu viajei. Mas alguém precisava atualizar isso.
6 comentários:
Me lembrou muitas conversas que tivemos! ^^
E o Ipsilone? uashuahus
Até que estamos postando com uma certa regularidade, mas essa semana as coisas realmente fiaram corridas para mim e também fiquei esperando atualizações.
Pena que na maioria dos casos só quem comenta aqui somos nós mesmos.
Em todo caso, ainda não assisti o filme e nem cheguei a ler o livro, por isso pulei o spoiler. :D
Achei o livro legal. Apesar de quase dormir em umas partes.
O filme me parece bem fiel...
um dia eu assisto.
Aaah, lindo lindo.
Merecia um artigo.
Sílvia ía amar! xD
=****
Heri, o livro é melhor que o filme, mas o filme vale a pena ser assistido. Muito bom. Não é 100% fiel.
Quanto a teoria do post eu tive uma interpretação diferente. Eu acho que a maior decepção dele foi ver que ele podia sentir qualquer perfume na face da terra, menos o dele mesmo. Na minha opnião o foco esta em ele não conseguir sentir o próprio cheiro. Mesmo fazendo um perfume perfeito, as pessoas adoravam o cheiro que ele tinha feito e não o dele mesmo.
Não consegui me expressar bem, mas é isso aí.
Eu enxerguei a falta de cheiro dele como uma forma de fazer a falta presente... Contradições psicanalíticas xD
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